Quem não conhece a famosa marchinha de carnaval “Yes, nós temos banana”? Como na música, o Brasil tem nióbio de sobra.
O que é o nióbio? Nióbio é um elemento descoberto em 1801 pelo químico inglês Charles Hatch. No início do século XX foi encontrado em Araxá, Minas Gerais, a maior mina de nióbio do planeta. Posteriormente, foi encontrado também em Goiás e no Amazonas. Por curiosidade, sua aplicabilidade foi uma das percursoras para a corrida espacial na década de 60.
Atualmente, 98% desse minério é encontrado no Brasil. Isso mesmo. Nós somos majoritariamente detentores da maior reserva de nióbio do mundo. Diversos países como a China, Estados Unidos e Japão (Depois te falo, mas podemos incluir França e Suíça), já exploram esse precioso minério por terras tupiniquins. E, por uma triste ironia, é vendido a preço de banana. Enquanto que o ouro é comercializado em média a U$ 40 mil o quilo, o Brasil vende o nióbio a U$ 36 o quilo. Isso mesmo, o nióbio está sendo vendido mil vezes a menos que o ouro.
Podemos comparar o nióbio com o ouro?
Talvez você deva estar se perguntando para que serve o nióbio. Resumidamente, o nióbio tem características no seu elemento que o torna leve e resistente. Se 100 gramas de nióbio for misturada a uma tonelada de ferro ou aço, teremos uma tonelada (e mais 100 gramas) de uma superliga. Essa superliga, por exemplo, tornará muito mais leve e resistente que o kevlar (colete a prova de balas). Sem falar que ele só entra em fusão a partir de 2.837 °C (só para situarmos, a lava de um vulcão gira em torno de 1.200°C). Também não podemos deixar de mencionar que ele é um supercondutor. Isso mesmo, conduz melhor que cobre. Fora outras vantagens que comentarei daqui a pouco, se não irei bagunçar o coreto.
Mas, se esse minério tem tantas propriedades e características positivas, porque ela não está sendo valorizada? A resposta é complexa e confesso que não me convenceu. Pra responder, primeiro vou esgotar (até aonde a ciência descobriu) todos os benefícios e aplicabilidades que esse minério nos traz. Em seguida, irei pontuar de forma econômica e política as razões que as mídias divulgaram porque ele é importado tão barato. E por fim, irei compartilhar a opinião de outros especialistas, focando pelo prisma da tecnologia, segurança e eficiência, o que esse elemento nos proporcionará, a médio e longo prazo.
Aplicabilidade
Para não ficar muito longo e cansativo, vou citar resumidamente as aplicações do nióbio.
- Aplicações hipoalérgicas – Por não provocar alergias, pode ser usado como joias ou piercings no corpo, além também para a medicina, como exemplo o marcapasso.
- Niobato de Lítio – Ferromagnético usado para celulares, nos moduladores ópticos e na fabricação de aparelhos de superfície de ondas acústicas.
- Imãs Supercondutores – Utilizados nos instrumentos das máquinas de ressonância magnética, nas de ressonância magnética nuclear e também nos aceleradores de partículas. Para quem não se lembra, a França e Suíça criaram o acelerador de partículas, Grande Colisor de Hádrons, de 27 quilômetros de diâmetro.
- Numismática – A Europa usa o nióbio para fazer moedas comemorativas.
- Ligas metálicas – Na produção de componentes das turbinas a gás e nos metais líquidos dos permutadores de calor.
- Produção de aço – Utilizadas nas indústrias automobilísticas e na fabricação de oleodutos.
- Superligas – Para mim, que prezo à eficiência energética, é um dos maiores quesitos. Alguns compostos com o nióbio são utilizados para a produção de componentes de motores a reação, nas turbinas a gás, turbo compressores e equipamentos de combustão. O bocal do foguete que vão para o espaço, por exemplo, utiliza geralmente uma liga de nióbio e titânio.
- Indústrias Nucleares.
- Selos arcos voltaicos de lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão.
- Supercondutor – Quando reduzimos a temperaturas criogênicas, a sua condutibilidade é excepcional.
Razões para vendermos tão barato
Eu também fiquei espantado das inúmeras utilidades que o nióbio nos beneficia. Mas agora vem a tentativa de compreendermos o porquê de ser vendido tão barato.
- Pode ser substituído – Caso não existisse o nióbio, mesmo assim haveria outros elementos como o tântalo e o tungstênio que poderiam suprir a sua falta. A Rússia e a África, por exemplo, têm seus próprios minérios e não se interessam pelo nióbio.
- Oferta e Demanda – Foi estimado que a concentração do nióbio no Brasil é de 840 milhões de toneladas. E como havia dito antes, basta algumas gramas para misturar em toneladas de ferro ou aço. Ou seja, pelo princípio da oferta e procura, quando temos muito nióbio e um punhado de uso, o seu valor venal tende a cair.
- Os outros 2% – Até o momento, além do Brasil, só o Canadá e a Austrália detêm os outros 2% da reserva mundial. E como já havíamos dito, basta uma pequena quantidade de nióbio para as aplicabilidades ditas anteriormente.
- Nós não vendemos nióbio puro – A CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) não vende o minério bruto, e sim uma liga chamada ferronióbio. Não refinamos o nióbio para vendê-lo.
Alguns Fatores Relevantes para Encarecer
Vou ser sincero. Pesquisei em todos os lugares para ver se achava mais argumentos que pudessem me convencer para o nióbio custar barato. A lista supracitada vence, mas não me convence. Enfim, agora vou mostrar o outro lado da moeda.
- EUA está de olho no nosso nióbio – Em 2010, vazou pelo site Wikileaks que os Estados Unidos consideram as minas de nióbio no Brasil como estratégicos e imprescindíveis para o seu desenvolvimento. Ou seja, se aumentarmos o valor do nióbio ele irá deixar de comprar para ir nos 2% lá do Canadá ou da Austrália? Eu entendo que não.
- Nós vendemos nióbio e compramos máquinas de ressonância magnética – Essa é uma triste realidade e podemos mudar. Se o governo fosse investir no consumo da própria matéria prima, seria mais uma razão de discutir o preço. Ao invés de vendermos ferronióbio, venderíamos os aparelhos prontos.
- Produção de tecnologias para militares – O nióbio é muito útil para programas e projetos militares em qualquer lugar do mundo. Ao vender estamos fortalecendo esses países militarmente. Mesmo que não estejam interessados no preço que realmente valha, usaríamos para o nosso fortalecimento. Posteriormente, esses países voltariam atrás e iriam renegociar.
- Eficiência Energética – Utilizando o nióbio nas usinas nucleares, nas turbinas e nos eletrodutos, estaremos melhorando o desempenho dos mesmos e com isso estaremos aumentando a efetividade das máquinas, bem como reduzindo gastos de consumo e reduziremos a emissão de gases. A ONU está solicitando que os países se tornem mais sustentáveis, e o nióbio é um dos elementos que poderá contribuir e muito. Havendo interesse, poderei aprofundar ainda mais nesse item.
O que podemos concluir?
Apesar de alguns “especialistas no assunto” justificarem da razão do baixo valor de venda do nióbio, há uma outra corrente – que eu considero – com argumentos de sobra que, a médio e longo prazo, demonstram que o nióbio é fundamental, tanto no militarismo, quanto para a eficiência / sustentabilidade. E o que mais me impressiona é: mesmo que consideramos os nossos governantes ingênuos ou com receio de perder clientes numa eventual renegociação, verificamos que países como os Estados Unidos, que fica do lado do Canadá, estão de olho sigilosamente no nosso minério.
Aparentemente o nosso país está desperdiçando uma oportunidade incrível em faturar mais com esse minério e, consequentemente, aumentar a sua arrecadação, que poderia ser revertida em benefícios para nossa população. Não quero me adentrar muito na política, mas creio que nós, brasileiros temos o direito e o dever de exigir em valorizar o que é nosso.
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